Quando Antonio Roberto Lima Silveira, Kaio Vinícius dos Santos Celestino e Adalton Junio Nunes Evangelista Souza foram julgados pela 2ª Vara Federal Criminal da Bahia, o Brasil viu mais um capítulo da saga de fraudes ao Auxílio Emergencial. O tribunal, em Salvador, constatou que o trio usou softwares maliciosos para burlar os sistemas da Caixa Econômica Federal, desviando cerca de R$ 200 mil dos cofres públicos. A sentença, proferida em 12 de outubro de 2025, destaca a gravidade da prática e a necessidade de proteção dos recursos destinados aos mais vulneráveis.
Contexto da fraude ao Auxílio Emergencial
O Auxílio Emergencial foi criado em 2020 durante a gestão do então presidente Jair Bolsonaro, como resposta à crise econômica provocada pela pandemia de Covid‑19. O benefício, que chegou a mais de 68 milhões de brasileiros, tornou‑se alvo de criminosos que aproveitaram vulnerabilidades nos sistemas de cadastro. Estudos do Ministério Público Federal revelam que, desde 2020, mais de 1,2 milhão de pagamentos foram suspeitos de irregularidade.
Detalhes do caso na Bahia
De acordo com a sentença, Silveira era o líder técnico do esquema. Ele programou “bots” que criavam contas falsas na base de dados da Caixa e, em seguida, transferiam o valor do benefício para contas de terceiros.
“A ação demonstrou um nível avançado de conhecimento em cibersegurança, mas, ao mesmo tempo, um total desprezo pelas necessidades da população”, disse a delegada‑juíza Marlene Pereira, relatora do processo.
Os demais integrantes, Celestino e Souza, foram responsáveis por abrir as contas de laranjas e lavar o dinheiro adquirido, comprando veículos e imóveis em nome de terceiros. Silveira recebeu 17 anos de reclusão em regime fechado; os outros dois, cerca de quatro anos em regime semiaberto, além de multa de R$ 50 mil cada.

Esquemas semelhantes em outras regiões
O caso não é isolado. Em Bacabal, Maranhão, a Polícia Federal prendeu um suspeito na operação “Baluarte”, apreendendo R$ 300 mil em dinheiro, documentos falsos e equipamentos de falsificação. Já no Amazonas, um trio foi flagrado desviando R$ 600 mil do benefício, investigado pelo delegado Valdinei Silva da 37ª Delegacia de Polícia.
Esses episódios mostram a extensão da vulnerabilidade dos sistemas digitais governamentais e a necessidade de reforçar a segurança cibernética. Segundo o analista de segurança da informação Carlos Meireles, “os criminosos estão sempre um passo à frente, mas a solução está em auditorias constantes e em melhorar a autenticação dos usuários”.
Repercussões e ações do Governo Federal
Em resposta, o Governo Federal, por meio do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), divulgou em 2 de outubro de 2025 uma lista com 176 mil pessoas que receberam o benefício indevidamente. O portal oficial permite a devolução em até 60 dias via Pix, cartão de crédito ou boleto (GRU) pelo sistema VEJAE.
Além da restituição, o MDS anunciou a implantação de um novo módulo de verificação de identidade, que exigirá biometria facial e cruzamento de dados com o Cadastro Único. “É essencial que o auxílio chegue quem realmente precisa, sem brechas para fraudes”, afirmou a secretária de assistência social, Ana Lúcia Ribeiro.

Perspectivas e desafios futuros
Especialistas apontam que, apesar das medidas, o risco de novos esquemas permanece alto. A falta de um cadastro unificado de beneficiários facilita a criação de perfis falsos. Por outro lado, a tecnologia blockchain tem sido sugerida como alternativa para garantir a rastreabilidade dos pagamentos.
Enquanto isso, o judiciário continua a apurar casos semelhantes. Em Brasília, três empresários foram liberados após serem flagrados com mais de R$ 1,2 milhão em espécie no Aeroporto Internacional, mas ainda enfrentam investigação por lavagem de dinheiro ligada ao Auxílio Emergencial. O repúblico observa atentamente como o Estado equilibrará a necessidade de assistência social com a necessidade de combater a criminalidade financeira.
Perguntas Frequentes
Como a fraude ao Auxílio Emergencial afeta os contribuintes?
Cada real perdido por fraude representa menos recursos para quem realmente precisa. Em 2025, estima‑se que fraudes tenham drenado cerca de R$ 1,5 bilhão, reduzindo a capacidade do governo de ampliar o benefício ou implementar novos programas sociais.
Quais medidas o MDS está adotando para evitar novas fraudes?
O ministério lançou o sistema VEJAE, que permite a devolução facilitada, e está implantando biometria e cruzamento de bases de dados. Além disso, criou uma força‑tarefa conjunta com a Polícia Federal para monitorar transações suspeitas em tempo real.
Quem foram os condenados na Bahia e qual foi a sentença?
O líder do grupo, Antonio Roberto Lima Silveira, recebeu 17 anos em regime fechado. Kaio Vinícius dos Santos Celestino e Adalton Junio Nunes Evangelista Souza foram sentenciados a cerca de quatro anos em regime semiaberto, além de multas e proibição de exercer cargos públicos.
O que a população pode fazer se suspeitar de fraude?
Denúncias podem ser feitas pelo telefone 190 ou pelo aplicativo “Denúncia de Fraudes” do governo federal. É importante informar CPF, detalhes da conta suspeita e, se possível, apresentar comprovantes de pagamento indevido.
Qual a expectativa de devolução dos valores indevidos?
O MDS estabelece prazo de 60 dias para que os beneficiários inadimplentes efetuem a devolução, podendo ser parcelada em até 12 vezes. Caso o pagamento não ocorra, o valor será cobrado judicialmente.
Todos os comentários
Verônica Barbosa outubro 9, 2025
Fraude assim mostra a falha do governo em proteger o cidadão.