Quando Cristian Cravinhos da Silva publicou um story no Instagram no domingo, 2 de novembro de 2025, com um simples "Muita mentira kkkk. Que série ruim!!!", ele não estava só reclamando de entretenimento. Estava desafiando uma narrativa que a Amazon Prime Video transformou em uma série de sucesso: Tremembé. Lançada em 31 de outubro de 2025, a produção retrata seu tempo na Penitenciária de Tremembé II, em São Paulo — um presídio que virou símbolo da fama do crime no Brasil. E não é só a violência que a série exibe. É o romance. Um romance homoafetivo. Entre ele e um detento chamado Duda — na vida real, Ricardo de Freitas Nascimento, apelidado de "Dudinha". A série mostra Cravinhos usando calcinha, fazendo coração com sabonetes, trocando cartas românticas. Ele diz que é tudo mentira. A produção diz que tem provas. E aí, quem está falando a verdade?
"Praticamente tudo é falso"
Cristian Cravinhos, hoje com 42 anos e sob liberdade condicional desde 2023, não se calou. Em seus stories, ele foi direto: "Tudo pelo ibope". E não foi só um comentário rápido. Ele repetiu: "A série é mentirosa! Acordem!". O tom é de quem se sente traído — não pela prisão, mas pela representação. Porque, na vida real, ele passou 15 anos dentro daquelas celas, entre regimes semiaberto e aberto, sem nunca ter feito declarações públicas sobre um relacionamento amoroso. E agora, de repente, ele é retratado como um personagem de novela, com cenas que parecem saídas de um filme de romance gay, mas sem qualquer confirmação dele mesmo.As provas do jornalista
Mas quem é quem está certo? O jornalista Ulisses Campbell, autor dos livros que serviram de base para a série — Elize Matsunaga e Suzane: assassina e manipuladora — respondeu na terça-feira, 4 de novembro, com um vídeo no Instagram. Mostrou uma carta datada de 12 de junho de 2016, assinada por Cravinhos, que diz: "Dudinha, obrigado, de coração, por todos esses dias, meses, anos... Você é um presente que Deus me deu.". E, para completar, exibiu uma calcinha branca, supostamente usada por Ricardo. "No jornalismo, um testemunho gravado não basta", disse Campbell. "Precisamos de provas materiais." A pergunta que fica: essa calcinha veio de onde? Quem a guardou? E por que só aparece agora, 9 anos depois?Um caso que nunca saiu da memória do Brasil
O crime que colocou Cravinhos na mira da justiça aconteceu em 31 de outubro de 2002. Suzane von Richthofen, então com 18 anos, planejou junto com seu namorado Daniel Cravinhos e o irmão dele, Cristian, o assassinato dos próprios pais, Manfred e Marísia von Richthofen. O objetivo? Herdar a fortuna da família — estimada em mais de R$ 2,3 milhões. Na madrugada do crime, Suzane abriu a porta da casa na zona sul de São Paulo. Daniel e Cristian entraram com barras de ferro. Os pais foram mortos enquanto dormiam. Depois, espalharam objetos, levaram joias — fingiram um assalto. A cena foi tão brutal que virou símbolo da decadência da elite paulistana. Em 2006, Cristian foi condenado a 38 anos e 6 meses de prisão. Hoje, ele vive sob monitoramento eletrônico, com restrições de deslocamento e proibição de contato com a família da vítima. Mas a prisão não foi o fim da história. Foi só o começo da lenda.
Penitenciária de Tremembé II: o presídio dos famosos
A Penitenciária de Tremembé II não é qualquer cadeia. É o lugar onde os criminosos mais conhecidos do Brasil vão quando conseguem progredir para o regime semiaberto. Lá, passaram Cravinhos, Suzane, o ex-jogador Edson Arantes do Nascimento (o "Pelé" da criminalidade, segundo a imprensa), e até o ex-deputado que matou o próprio filho. É um lugar onde a linha entre crime e celebridade se dissolve. Os presos viram influenciadores. Gravam vídeos. Escrevem livros. E, agora, viram personagens de séries. A Amazon Prime Video aproveitou isso. Mas será que isso é jornalismo? Ou exploração?"Não vou me defender. Tem outras prioridades"
Na terça-feira, 4 de novembro, Cravinhos voltou aos stories. Dessa vez, não foi com raiva. Foi com cansaço. "Não vou me defender", disse. "Tem outras prioridades no mundo." É uma frase que soa como rendição — ou como desdém. Ele não nega a carta. Não confirma o relacionamento. Só diz que não vale a pena. Será que ele acha que o mundo já esqueceu o que ele fez? Ou que, depois de 23 anos, ninguém mais se importa com a verdade? A série, mesmo sendo ficção, reacendeu o debate sobre quem tem o direito de contar histórias de crimes reais. E se a verdade importa menos que o entretenimento?
Quem ganha com isso?
A Amazon Prime Video já registrou aumento de 40% no engajamento da série nas primeiras 72 horas. A mídia, de O Tempo a Metropoles, não perdeu tempo: manchetes, vídeos, entrevistas. E Cravinhos? Ele não ganha dinheiro com isso. Mas sua imagem, agora, é a de um homem que viveu algo que ele nega. E isso, talvez, seja o pior castigo. Porque, mesmo que a série seja 90% ficção, o que fica é a sombra daquilo que foi mostrado. E as pessoas lembram mais do que foi exibido do que do que foi dito.Frequently Asked Questions
O relacionamento entre Cristian Cravinhos e "Dudinha" realmente existiu?
A existência do relacionamento é contestada. Cristian Cravinhos nega categoricamente, chamando a série de "mentira". Porém, o jornalista Ulisses Campbell apresentou uma carta de 2016 e uma calcinha como provas materiais. Não há testemunhas independentes nem gravações oficiais. A própria prisão não confirmou nem negou o caso. A verdade permanece ambígua — e isso é o que alimenta a polêmica.
Por que a série foi feita agora, 23 anos depois do crime?
A série foi produzida porque o caso Richthofen ainda é um marco cultural no Brasil. A combinação de classe alta, violência doméstica, manipulação e prisão de luxo atrai audiência. Além disso, Cravinhos está em liberdade condicional, o que torna sua vida atual um tema sensível. A Amazon aproveitou o momento em que a memória coletiva está ativa — e o interesse por histórias reais de crime está em alta.
Cristian Cravinhos pode processar a Amazon por difamação?
Legalmente, é possível, mas difícil. A série é classificada como "ficção inspirada em fatos reais", o que oferece proteção jurídica. Para processar, Cravinhos precisaria provar que a produção agiu com má-fé e causou dano moral comprovado. Até agora, ele não entrou com ação. Seu silêncio pode ser estratégico — ou apenas desgaste. O tempo e a opinião pública, mais que os tribunais, são seus juízes.
A série altera a percepção pública sobre o caso Richthofen?
Sim. Antes, o foco era Suzane, a filha rica que matou os pais. Agora, a narrativa se desloca para o ambiente prisional e a vida íntima de Cravinhos. Isso desvia atenção do plano original do crime — o desejo de herança — e transforma o caso em uma história de identidade, amor e exploração midiática. Muitos espectadores já não veem mais o assassinato, mas o coração de sabonetes.
O que acontece com Cristian Cravinhos agora?
Ele segue em liberdade condicional, com restrições legais e monitoramento eletrônico. Se violar os termos, pode voltar à prisão. Mas agora, ele também enfrenta um novo tipo de prisão: a da imagem pública. Sua vida privada foi exposta sem seu consentimento, e ele não tem controle sobre como será lembrado. Para muitos, ele é um assassino. Para outros, um homem que superou. Para a série, ele é um personagem. E isso, talvez, seja a pior punição de todas.
Todos os comentários
Henrique Seganfredo novembro 6, 2025
Essa série é uma piada nacional. Fazer romance gay em presídio pra ganhar ibope? Que falta de respeito com a história real.